De acordo com o Merriam Webster On-line Dictionary, excelente significa muito bom, de primeira classe, superior, sugerindo que excelência implica virtude ou algo que é valioso.
Assim, parece que se nossas instituições de educação teológica podem demonstrar valores e virtudes, nossos folders poderiam declarar que somos de primeira classe, excelentes. Somos mais do que apenas adequados, somos muito bons no que fazemos, ou, pelo, menos é o que devemos ser, correto?
Agora, como podemos perceber ou reconhecer a excelência diante de tão grande variedade de programas teológicos fazendo as coisas de forma tão diferente, especialmente à luz dos aspectos quase ilimitados nos quais sabemos que nossas próprias instituições poderiam ser melhores? A seguir, vamos examinar um pouco deste vasto assunto.
É a excelência bíblica?
Em Gênesis 1, lemos que Deus fizera exatamente o que pretendia fazer, pelo poder de Sua Palavra. Ele gostou do que viu e afirmou: “Isso é bom!” Reconhecemos uma qualidade incomparável em caráter, em resultados e no processo. A excelência é vista em quem Deus é no que Ele faz e em como Ele faz.
Ainda virá o dia em que seremos transformados em um abrir e fechar de olhos (1Co 15.51), apesar de que Paulo pode dizer que, já neste tempo presente, “é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.” (Fp 2.13).
Emprestando a linguagem do mundo dos negócios, as marcas ou padrões de excelência são claros no caráter de Deus. Porém, mesmo não sendo possível ter uma escola sem defeitos, somos encorajados a aprender a valorizar a excelência. O apóstolo Paulo disse que somos chamados a refletir sobre o que é excelente (Fp 4.8).
Ao escrever a Tito, o apóstolo indicou que, quando estava fazendo o que era bom e útil para todos, a igreja estava empenhada em algo que poderia ser chamado de excelente (Tt 3.8) e também diz algo semelhante quando descreve o valor do amor, chamando-o de “um caminho ainda mais excelente.” (1Co 12.31).
A excelência é o mesmo que sucesso?
De certa forma, a resposta é sim. Deus realizou o que queria realizar. Isto é um trabalho de primeira classe. Existe excelência ou qualidade quando as coisas certas são feitas da maneira certa, no entanto, a questão não é apenas alcançar um objetivo: é alcançar os objetivos corretos.
Quando a excelência é fundamentalmente definida pelo “sucesso”, existe uma forte tentação a se contar histórias que não representam exatamente o quadro completo. Se uma instituição de treinamento relata que todos os seus estudantes foram aprovados com sucesso em seus exames, talvez isso mereça uma celebração. Entretanto, o que foi realmente testado nesses exames? Os alunos são capazes de pregar? Ou ainda, eles são pregadores brilhantes, mas tão arrogantes que ninguém os quer como pastores? A excelência é mais do que apenas uma lista de “sucessos”, especialmente se estes forem decorrentes de objetivos mal estabelecidos, relatórios seletivos, análises incompletas ou uma utilização equivocada de estatísticas.
Contudo, quando somos capazes de realizar as coisas corretas da maneira correta, há muito que comemorar com o nosso sucesso. É a excelência relativa? Sim e não.
Avaliamos a nossa qualidade enquanto nos comparamos com padrões e objetivos específicos. Isso não é relativo. Porém, muitos padrões são diferentes para pessoas e contextos diferentes, e em momentos diferentes. Quando os objetivos de uma atividade ou organização se modificam, os critérios pelos quais avaliamos a excelência devem também mudar.
Um curso de especialização em aconselhamento conjugal deve ser avaliado de forma diferente de um seminário oferecido em um fim de semana para ajudar os casais a aprenderem a se comunicar melhor.
Ambos terão padrões e critérios diferentes de excelência se comparados a um acampamento que pretende ajudar garotos a melhorarem seu futebol. Avaliar a excelência também depende das habilidades e da experiência dos participantes. Afirmamos a excelência a partir do sucesso que obtemos em alcançar um padrão ou objetivo que seja apropriado ao programa e ao nível de habilidades e experiências daqueles que participam do programa.
Quem determina os padrões ou a excelência de alguém?
1. O próprio Deus. Programas de educação teológica evangélica existem para glorificar a Deus. Nossa aspiração individual e institucional deve ser ouvir Deus dizendo “Muito bem, servo bom e fiel”.
Ao procurarmos desempenhar a tarefa que nos foi dada, precisamos atentar para a Palavra do Senhor e ouvir o Espírito de Deus a fim de caminhar e trabalhar com sabedoria.
Apesar de a avaliação final das nossas obras ocorrer apenas no final dos tempos, quando todas as coisas serão reveladas, Deus pode nos encorajar (e corrigir) naquilo que estamos fazendo agora.
2. A comunidade a que servimos. Além do próprio Deus, o local mais importante em que devemos ouvir palavras de encorajamento a respeito de nossa excelência é a comunidade a que buscamos servir.
O feedback de nossa clientela é a melhor forma de receber as informações positivas e/ou negativas a respeito de nossa excelência.
3. Agências oficiais do governo. Existe afirmação de qualidade e excelência em validações oficiais ou processos de reconhecimento.
Cada vez mais os governos se reservam ao direito de “credenciar” ou “reconhecer” programas de educação. Isso não restringe o direito de igrejas ou instituições teológicas de oferecerem seminários e workshops relevantes, no entanto, autoridades de educação governamentais querem garantir que as instituições educacionais sejam competentes e estruturadas o bastante para serem escolas.
O reconhecimento do governo protege as pessoas comuns de falsos programas educacionais que oferecem “graduações” baratas e com um mínimo de trabalho.
Tais esforços de validação geralmente não intevêm em questões sobre:
a) quem serve como professor;
b) quem é ensinado;
c) o que é ministrado em cada um dos cursos.
Seu enfoque está em que professores sejam qualificados, que a escola tenha instalações e saúde financeira adequadas, que os currículos sejam bem desenhados para as graduações oferecidas, que os programas tenham um bom regimento, um bom corpo administrativo, etc.
Por uma série de razões, uma instituição teológica evangélica pode optar por não ser reconhecida pelo MEC, no entanto, muitos estudantes preferem fazer um curso que seja reconhecido pelo governo, precisamente porque isso implica uma afirmação oficial da qualidade e excelência do programa.
4. Organizações teológicas. Organismos governamentais não estão em condições de avaliar se estamos fazendo bem à formação de caráter ou à preparação efetiva de pessoas para o ministério cristão.
Esse tipo de avaliação, contudo, pode ser realizado por colegas que trabalhem em comissões de reconhecimento de organizações que atuam em áreas equivalentes, como, por exemplo, a AETAL, que, além de ser uma associação de escolas teológicas evangélicas, é uma respeitada agência de reconhecimento dessas escolas no Brasil e nos demais países da América Latina. É muito bom quando um programa teológico pode ser internacionalmente honrado por sua qualidade.
5. A equipe e a liderança da própria instituição. Todos os que estão envolvidos na educação teológica precisam perceber se estão ou não fazendo um bom trabalho. O programa educacional deve se tornar uma comunidade que constantemente se renova e encoraja para continuar a crescer em excelência.
Todos os programas de treinamento necessitam multiplicar suas formas de obter feedback para aprenderem mais sobre o que estão fazendo. Ser uma escola excelente requer excelência em muitas áreas distintas. Uma boa maneira para um programa avaliar sua própria excelência é trabalhar com as perguntas de auto-avaliação que fazem parte das visitas for-mais das agências de reconhecimento.
É a excelência possível?
Na verdade, ela é exigida! A Palavra de Deus não nos chamaria à excelência se ela não fosse possível. Então, até que ponto nós estamos consciente das excelências, sabendo que Deus está trabalhando em nós e através de nós? Temos os olhos de Deus para compreender as necessidades do povo e de seu ambiente? Estamos utilizando nosso tempo de maneira sábia, para que façamos as coisas certas e da maneira correta? Estamos nos acomodando na mediocridade? Temos respondido bem às necessidades do contexto que integramos, diante dos nossos objetivos e propósitos? Estamos satisfeitos com os processos que temos utilizado para cumprir nossos objetivos? Saber as respostas destas e de outras perguntas nos ajuda a afirmar se nossa instituição teológica é ou não excelente, não apenas aos olhos de Deus, mas diante de muitos outros.
Conclusão
O apóstolo Paulo encoraja todos nós com estas palavras: “Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai.” (Cl 3.17). Como a educação é um mandado que recebemos do nosso Mestre – Jesus Cristo, como parte de Sua Grande Comissão para toda a Igreja (Mt 28.18-20), todos aqueles que servem na liderança de instituições teológicas precisam descobrir o que é ou não excelente dentro do que estão fazendo.
Artigo adaptado do livro “A Excelência no Ensino Teológico”, Capítulo I (Steve Hardy, Editora Descoberta, 2007).